De 22 de setembro a 14 de outubro de 2024 a Irmã Cacilda Rosa Joaquim Torcida Gamboa, Superiora Geral, fez visitas fraternas às nossas Comunidades em Portugal, acompanhada pela Irmã Maria Dulce Gomes de Gois Pinto; Vigária Geral, nas seguintes cidades: Cerejais, Fátima, Portalegre e Coimbra. Estas visitas fraternas foram momentos de estreitar laços de comunhão, de interajuda, na aproximação e conhecimento das Irmãs, dos grupos da Associação Amigos da Irmã Wilson, dos nossos colaboradores e utentes, das suas vidas e missão concretas. Tempo de oração, de escutar palavras de apoio e encorajamento que sustentam a nossa fidelidade.
Aliás, neste mês de outubro, no qual celebramos a solenidade de São Francisco de Assis e a Páscoa da Venerável Irmã Wilson, nos propomos a crescer na fidelidade à Vida Consagrada, ao jeito deles.
Francisco, querendo ser fiel ao projecto de Deus, rezava junto do Crucifixo de S. Damião: “Senhor Deus Altíssimo, dá-me uma fé verdadeira, uma esperança firme e uma caridade perfeita, para que eu possa cumprir o sagrado encargo que acabas de dar-me” (OCD).
Custou-lhe caro esse encargo. Teve de despojar-se de tudo, até das vestes, fazer-se pobre aos olhos humanos. Sentiu-se à deriva, percorrendo um caminho que ele não acabava de entender. Foi abandonado: pelo pai, pelo irmão, por muitos dos seus amigos; pelo povo de Assis que o apelidava de louco; pelo Papa e os Cardeais que desconfiaram tratar-se dum herege. Não conseguia perceber se o Senhor o queria em vida itinerante pelo mundo fora, ou em vida contemplativa. Apesar de tudo, optou pela fidelidade ao projecto de Deus, ainda que para isso fosse necessário dar a vida. E quase lha tiravam. Preocupava-se, ao ponto de chorar, por ver que o Senhor é tão misericordioso para connosco e nós não O amamos como Ele merece.
E aos leigos, particularmente àqueles que procuravam viver a sério a vida cristã, escreveu uma carta a fazer-lhes ver a importância de se manterem fiéis a Deus. “A todos os que amam o Senhor! com todo o coração, com toda a alma e com todo o entendimento, com todas as suas forças e amam o próximo como a si mesmos, e aborrecem o pecado, e recebem o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e fazem dignos frutos de conversão, Oh! Quão felizes e benditos são esses homens e mulheres que praticam estas coisas e perseveram nelas!” (1CF 1- 6).
Também a Irmã Wilson nos ensina. Aprendeu do berço a importância da fidelidade a Deus, à qual sempre se manteve. Percebe-se que seus pais, embora anglicanos, mantiveram-se fiéis a Deus até ao último momento da sua vida. E certamente lhe teriam transmitido estes mesmos princípios. Numa carta do pai dirigida à cunhada Edite pode ler-se: “No dia 31 do mês passado, o nosso Jorginho foi-nos levado e anteontem a sua querida mãe foi a sepultar, se não fosse seguro que é a vontade de Deus não sei como poderia aguentar. A minha esposa está agora salva, sob a guarda do seu misericordioso Senhor e Dono…” (CF 2).
E numa outra carta a outras cunhadas, dá a mesma notícia e descreve toda a situação de doença da esposa e os sentimentos de fidelidade na fé que ela sempre revelara. Por fim acrescenta:
“Não disse nada acerca do meu estado de espírito nem outra coisa direi a não ser que desejo, pela graça de Deus, manter-me humilde debaixo deste golpe; «ser como barro nas mãos do oleiro»” (CF3). E a própria Mary, ao iniciar o seu caminho de conversão à Igreja católica e ao enfrentar as contrariedades da tia, dirige-se ao irmão nestes termos: “Começo a pensar se serei capaz de viver com a tia. A minha vida com ela foi sempre, mais ou menos um tormento. O amor mútuo que existe entre nós ajudou-me a não fazer caso do que sempre considerei um defeito natural de temperamento… procuro não fazer nada de precipitado, nada de egoísmo” (CIW 13A).
A fidelidade ao projecto de Deus era o seu distintivo: Ao fundar a Congregação, quanta luta, para que a vontade de Deus prevalecesse. Rebenta a República, é escarnecida, presa, expulsa para a Inglaterra. Vê o seu projeto desmoronar-se. Mas a sua expressão é: “As minhas esperanças de regressar à Madeira estão muito em baixo. Que se faça a santa vontade de Deus! Nosso Senhor é quem sabe o que é melhor para nós. Simplesmente, sejamos fiéis a Ele e à nossa vocação.” (CIW45).
É nesta entrega total a Deus e à Sua missão que Ela se mantém até ao fim. Dizia:
“Devemos ser firmes no Amor divino como um ilhéu no meio do oceano, batem de todos os lados tempestades e fica sempre sendo ilhéu” (Vida 128). “Sem dor não há palma, sem espinhos não há trono, sem cruz não há vitória” (CIW 43). “Não merece recompensa quem começa a trabalhar no serviço do Senhor, mas quem perseverar até ao fim da vida “ (Vida 97). “Nunca devemos desanimar no combate” (CIW 159). A alegria de Deus é a nossa força” (CIW 118).
Imbuídas do mesmo carisma, muitas Irmãs viveram este espírito de entrega e fidelidade ao longo da história da Congregação. Conta-nos a Irmã Conceição Pereira: “Após a república, A maior parte das irmãs queria ficar e renovar os votos em privado. Uma delas foi expor o caso ao Sr. Bispo. A resposta dele foi: «As leis não permitem! As irmãs estão todas dispensadas dos votos. Podem ficar sossegadas com as suas famílias”. Retorquiu-lhe a irmã: «não aceito a dispensa. Deixei voluntariamente a família para seguir o Senhor. Fiz os meus votos voluntariamente; contra a minha vontade ninguém me pode dispensar. Queria voltar para onde estava, secularizada, mas religiosa oculta. Renovar os votos anualmente, em particular”.
O Senhor Bispo fechou os olhos e ficou sem nada dizer, como quem invoca o Espírito santo. Depois ajuntou: «Pois bem. Vá, e pode seguir o seu exemplo quem o desejar. Quando tiver alguma dificuldade venha comigo»” (Vida, 147). E podíamos continuar apresentando ainda outros testemunhos.
Diante desta reflexão podemos nos questionar hoje: Como vai a nossa fidelidade a Deus e ao projeto que abraçámos?
Assim, pedimos ao Senhor, por intercessão de São Francisco de Assis e da Venerável Irmã Wilson, que abençoe a cada Irmã destas comunidades visitadas pela Irmã Superiora Geral para que vencendo todas as dificuldades do caminho, possam ser fieis ao carisma e ao espírito da Fundadora, espalhando o perfume de Jesus Cristo por toda a parte.