Diz agora o Senhor: Convertei-vos a Mim de todo o coração, com jejuns, lágrimas e lamentações. Rasgai o vosso coração e não os vossos vestidos, convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo, paciente e rico em misericórdia. Jl 2, 12-13
Iniciámos no passado dia 22 de Fevereiro o tempo Litúrgico da Quaresma, tempo de graça, tempo forte, de purificação e de conversão; tempo de encontro e momento favorável que o Senhor nos oferece para que, de forma mais intensa e profunda, façamos um caminho de verdadeira conversão, através de um processo de mudança interior e de arrependimento que nos leve a voltar para Ele com toda a nossa vida, atitudes, palavras e com todo o nosso coração.
Como ensina a Igreja, este tempo é particularmente apropriado para os exercícios espirituais, as liturgias penitenciais … as privações voluntárias como o jejum e a esmola, a partilha fraterna tais como as obras caritativas (CIC 1438). O jejum – enquanto abstinência de algo, privação de alimentos, de palavras, pensamentos, actos, e de tudo aquilo que nos afasta de Deus e dos irmãos. A esmola – enquanto constitui uma ocasião de crescimento, ao nos aproximarmos do Senhor nos irmãos, tornando-nos mais solidários, generosos, atentos, desprendidos, acolhedores e mais fraternos. A oração – enquanto consiste em estar com o Senhor, criar mais intimidade estabelecendo mais momentos de encontro e de relação com Ele; de “permanecer” n’Ele e com Ele, a fim de que nos fale no mais íntimo de nós mesmos, toque as nossas misérias, dando-nos a possibilidade de nos convertermos e beneficiarmos da Sua infinita bondade e misericórdia.
Para este ano o Santo Padre o Papa Francisco convida-nos à ascese quaresmal, a subir com Jesus a um alto monte para vivermos como povo de Deus uma experiência de ascese quaresmal que “é um empenho, sempre animado pela graça, no sentido de superar as nossas faltas de fé e as resistências em seguir Jesus pelo caminho da cruz” (Papa Francisco, mensagem para a Quaresma de 2023).
O Profeta Joel convida-nos a convertemo-nos ao Senhor de todo o coração, o que implica e exige de cada uma e de cada um de nós tomar a decisão de mudar, de transformar em bem e vida tudo aquilo que nos impede de voarmos mais alto na vivência dos nossos compromissos batismais. Seja este tempo de graça vivido em espírito de gratidão, vigilância, penitência, doação; esperança, na certeza de que o Senhor caminha e está connosco, orientando todos os nossos passos, fortalecendo as nossas debilidades, dando sentido aos nossos medos, porque “Ele é clemente e compassivo, paciente e rico em misericórdia”.
Como Família Carismática: Irmãs Franciscanas de Nossa senhora das Vitórias e Associação Amigos da Irmã Wilson, estamos a viver a celebração do jubileu dos 150 anos da Conversão da Venerável Irmã Maria de São Francisco Wilson. O que significou para a Irmã Wilson converter-se? Certamente não foi uma mera mudança da Igreja Anglicana para a Igreja Católica, mas sim um processo duro e longo de luta interior que a levou a uma transformação, a uma nova convicção, a uma adesão ao novo projecto que Deus traçava na sua vida. Esta passagem do Anglicanismo para o Catolicismo custou à Irmã Wilson um grande sofrimento, um abandono, um desamparo por parte dos seus familiares e amigos; mas, porque no mais íntimo de si, ela escutava aquela voz que sussurrava bem suavemente e a inquietava; ela sem medo e bem confiante, como aconteceu com os discípulos quando Jesus lhes disse: “Levantai-vos e não tenhais medo”, aceitou o novo plano que Deus tinha sobre ela.
Para nós hoje, o que significa abraçar o caminho da conversão em pleno tempo da Quaresma e no ano do jubileu dos 150 anos de Conversão da Irmã Wilson à Igreja Católica? É mais um tempo litúrgico ou mais um ano de celebração jubilar? O que significa concretamente e que consequências visíveis e práticas trazem esses momentos celebrativos de graça para a nossa vida pessoal e familiar? A nossa vida, as nossas famílias, os nossos grupos clamam pela nossa conversão. Tenhamos a coragem de iniciar esse processo – de subir ao alto monte. Continuemos a celebrar a conversão da nossa querida Fundadora como uma ocasião que o Senhor nos concede para voltarmos mais para Ele, numa relação de mais intimidade como aconteceu há 150 anos na vida da Venerável Irmã Wilson.
Como já referi, um dos sinais da Quaresma é a prática da esmola que nos leva à caridade mediante a nossa solidariedade com aqueles que mais precisam. Tenhamos nesta Quaresma gestos concretos de caridade e sejamos generosos e atentos a tantas necessidades gritantes que se encontram bem junto das nossas casas, ruas, empregos…
A humanidade continua a viver e a experimentar grandes tensões e conflitos, gritando e clamando pela paz; sintamos continuamente a missão recebida do Senhor enquanto seus seguidores, de sermos semeadores e instrumentos de paz. Continuemos a suplicar ao Pai do Céu este dom tão precioso, necessário e tão fragilizado, de que a humanidade tanto precisa.
Boa e frutuosa caminhada quaresmal rumo à Páscoa da Ressurreição.
Apelação, 25 de fevereiro de 2023
Irmã Cacilda Rosa Joaquim Torcida Gamboa, Superiora Geral