O Senhor nos dê a Sua Paz!
Queridos Irmãos e Irmãs em Cristo
Assim fala o Senhor, se destruíres teus instrumentos de opressão, e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa; se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia. O Senhor te conduzirá sempre e saciará tua sede na aridez da vida, e renovará o vigor do teu corpo; serás como um jardim bem regado, como uma fonte de águas que jamais secarão. (Is 58,9-11)
O profeta Isaías no trecho acima, exorta-nos à caridade fraterna, à prática das obras de misericórdia, das obras que agradam ao Senhor, as quais passam pela conversão das nossas atitudes, linguagem e gestos que destroem e oprimem o irmão que está ao nosso lado e connosco caminha, garantindo-nos que tal conversão trará consigo e permitirá que nasça em nós a luz e a nossa vida seja igualmente um raio de luz para a nossa própria vida, para os irmãos, para as nossas famílias e para a sociedade em geral. Na verdade, o bem, os gestos de proximidade, de caridade que possamos realizar e ter em relação ao faminto, ao oprimido, ao pobre… não ficarão sem retribuição e não serão indiferentes aos olhos do Senhor, pois se assim procedermos, se abre e acontece um verdadeiro encontro e uma verdadeira comunhão com Ele e com o irmão: “serás como um jardim bem regado, como uma fonte de águas que jamais secarão”.
É claro o convite que nos é feito neste tempo da Quaresma: do Jejum, da Esmola e da Oração, práticas ou exercícios que nos devem levar à solidariedade, à partilha, à oração. Jesus é, na verdade, exemplo desta forma de ser, estar e fazer. Em todas as circunstâncias foi solidário, partilhou a nossa vida e a nossa condição, assumiu as nossas limitações e os nossos pecados, resgatou a nossa dignidade e usou de misericórdia para connosco a fim de que tivéssemos e tenhamos uma vida nova em Deus, Seu Pai. Portanto, é evidente o convite de Jesus para este tempo da vivência quaresmal, o de participarmos ativamente na Sua obra redentora tendo presente as práticas próprias da Quaresma.
Abrais, pois, as vossas mãos e o vosso coração a tantos irmãos que se encontram à beira dos portões das vossas casas mendigando a vossa atenção, a assistência material e espiritual; que eles encontrem em cada um de vós, uma sua irmã, um irmão. Sigais os passos e o caminho do Senhor, que encontremos sempre o Senhor no irmão sofredor e faminto, no imigrante, no refugiado, no órfão, no explorado, no injustiçado, no desprezado e rejeitado, no marginalizado, no atingido pela guerra, no esquecido e abandonado…
Sejais protagonistas e instrumentos da paz e do bem; o mundo grita e clama por vós diante de tantas guerras, tanta pobreza e opressão de vária ordem e nos rodeiam, transformai o mundo, a começar pelas vossas famílias, Comunidades Paroquiais e ambiente de trabalho, em jardins bem irrigados, em verdadeiras nascentes de água viva como vos convida o profeta Isaías.
Nesta Quaresma o Santo Padre, Papa Francisco, na sua mensagem para este tempo com o tema: “Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade”, convida-nos queridos Irmãos, a sairdes das várias escravidões e a experimentardes a passagem da morte para a vida; apela para que o caminho quaresmal seja concreto, seja o tempo forte em que a Palavra de Deus é novamente dirigida: “Eu sou o Senhor, Teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da escravidão”. Seja tempo de conversão, tempo de liberdade. Seja tempo de agir, o que implica parar, parar em oração para acolher a Palavra de Deus, e parar como o Samaritano em presença do irmão ferido, isto é, parar na presença de Deus e do próximo.
O Santo Padre continua dizendo: oração, esmola e jejum devem ser um único movimento de abertura, de esvaziamento, o que implica que temos que lançar fora os ídolos que nos tornam pesados, os apegos que nos aprisionam. Portanto, paremos, diminuamos a velocidade da corrida, como nos apela o nosso querido Papa Francisco. Se assim acontecer, a dimensão contemplativa da vida que a Quaresma nos fará reencontrar, mobilizará novas energias. Na presença de Deus tornar-nos-emos irmãs e irmãos, sentiremos os outros com nova intensidade: em vez de ameaças e de inimigos encontramos companheiras e companheiros de viagem. (cf MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA A QUARESMA DE 2024, Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade).
Queridos Irmãos, a Igreja está a viver a preparação da celebração do jubileu a ter lugar em Roma e em todas as Igrejas do mundo inteiro no próximo ano 2025, subordinado ao tema: “Peregrinos da Esperança”. Este ano de 2024 em particular, o Santo Padre o Papa Francisco pede-nos para que o dediquemos à Oração: “a uma grande «sinfonia» de oração. Oração, em primeiro lugar, para recuperar o desejo de estar na presença do Senhor, escutá-Lo e adorá-Lo. Oração, depois, para agradecer a Deus tantos dons do seu amor por nós e louvar a sua obra na criação…Oração, ainda, como voz de «um só coração e uma só alma» (cf. At 4, 32), que se traduz na solidariedade e partilha do pão quotidiano. Oração, além disso, que permita a cada homem e mulher deste mundo dirigir-se ao único Deus, para lhe expressar tudo o que traz no segredo do coração. E oração como via mestra para a santidade, que leva a viver a contemplação inclusive no meio da ação. Em suma, um ano intenso de oração, em que os corações se abram para receber a abundância da graça, fazendo do «Pai Nosso» – a oração que Jesus nos ensinou – o programa de vida de todos os seus discípulos”. (CARTA DO PAPA FRANCISCO AO ARCEBISPO RINO FISICHELLA PELO JUBILEU 2025, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Roma, 11 de fevereiro de 2022). Unamo-nos a esta grande intenção da Igreja, e dediquemos tempo à oração, a nível pessoal e em família, nas várias formas que o Santo Padre nos pede e continuemos a rezar pelo bom êxito e bom fruto do grande jubileu de 2025.
Apelação, 20 de fevereiro de 2024
Irmã Cacilda Rosa Joaquim Torcida Gamboa
Superiora Geral