Queridas Irmãs,
Sou a irmã Madeleine Male Kora, uma religiosa congolesa a trabalhar na República Democrática do Congo, precisamente em Boma, numa missão nova que abriu no ano passado. Gostaria de agradecer a Congregação, especialmente a comissão do Secretariado da Irmã Wilson (Cúria Geral ) que me confiou este trabalho, para que em poucas linhas pudesse partilhar convosco alguma experiência da mesma missão.
A Irmã Wilson, nossa fundadora, é um exemplo de grande missionária. A sua vida baseou-se na missão, ou seja ela mesma foi missão toda a sua vida. Uma das suas qualidades, que constantemente procuramos pôr em prática nas nossas missões, em particular na nossa, é a de ser “Mãe”; mãe, sobretudo dos mais fracos, dos débeis, dos abandonados, dos doentes, enfim de todos aqueles e aquelas que procuram “razões de viver”, o sentido da vida. Ela foi uma mulher da Igreja, amou-a na figura dos mais vulneráveis, procurando o bem estar deles e não o seu pessoal, ou a sua glória. Procurou sempre ser franca e aberta com ela mesma, com as suas irmãs e com a Igreja (Bispos, Sacerdotes, religiosos, religiosas, fiéis leigos). Com esse seu carácter evitou olhar só para si, evitou o egoísmo; atitude, ou mal que está a enfermar grandemente as nossas comunidades. Hoje, infelizmente, é fácil perceber que muitas das nossas comunidades trabalham somente para si, sem se preocupar com as comunidades mais pobres. A falta de sensibilidade e empatia pelo sofrimento do outro e/ou da outra parece estar a ganhar terreno. O testemunho de vida – pessoal e comunitário – é outro aspecto que aos poucos nos vai escapando. Parece-me que ainda imperam muitas palavras bonitas e poucos gestos cristãos entre nós, atitudes que estão longe do espírito do Evangelho e daquilo que a Irmã Wilson queria que as suas filhas vivessem.
O amor pelo outro levou-lhe a arriscar a saúde e até a própria vida. Ou seja, quando Lazareto ficou infectado pela varíola, a Irmã Wilson deu o melhor de si indo ao encontro do Bispo da Diocese e até de autoridades, como o Governador da Freguesia, para que tivessem em conta os doentes contaminados pela doença. O seu amor pelo povo madeirense era grande. A dada altura tornou-se ‘voz’ dos sem voz.
SOBRE A MISSÃO AD INTRA: Queridas Irmas, a República Democrática do Congo é um país africano com uma imensa extensão territorial. O país está dividido em províncias e cada uma delas tem um ‘modus vivendi’ que lhe é peculiar. Felizmente, nem a extensão territorial, nem tão pouco esses diferentes modos de vida têm desencorajado as missionárias no seu trabalho de anunciar o reino de Deus. As missionárias têm pautado pelo amor, isto é, amor ao povo ao qual servem. Aliás, a própria missão é um acto de amor. O amor é a força que tem movido as missionárias a deixarem as suas terras para atravessarem oceanos, percorrendo continentes, levando a Boa Nova à toda a criatura. Porque Deus nos amou primeiro, mandando o Seu Filho até nós, também nós somos chamadas a amar a gente à qual servimos. Esse Cristo, Filho de Deus, anunciado na Europa, na Ásia, América, Oceania, é também anunciado aqui em África, em especial na nossa missão de Boma entre os pobres, doentes, abandonados, simples, enfim entre homens e mulheres de boa vontade. Esta missão, no meio de gente simples, tem sido um grande desafio. Ela exige a cada uma de nós a renovar-se cada dia, a ser mais ‘ousada’; exige que saiamos da “toca” que criamos, da nossa zona de conforto, exige enfim que saiamos do “ninho” e aprendamos a voar e voar alto. Caso contrário, pode-se fracassar logo à primeira ‘esquina’. A título de exemplo e, para terminar, eu faço comunidade com uma outra irmã. Isto é, a comunidade – que também é casa de formação (aspirantado) – é formada apenas por duas irmãs. Esta encontra-se num lugar montanhoso onde o único meio de transporte disponível é motorizada. Para ir ao centro da cidade são necessários 25 a 30 minutos e a comunidade é desprovida de quase tudo, até de coisas muito básicas como água potável, energia eléctrica, alimentos de primeira necessidade entre outras. Todo o mundo, na povoação, está com os olhos voltados para as irmãs. Quando chegamos, com apenas algumas semanas de votos perpétuos, a situação parecia não só difícil, mas impossível para nós, minha irmã e eu. Mas, a confiança em Deus e em nós mesmas, quais instrumentos frágeis nos quais Deus faz passar a graça, fez com que pouco à pouco tomássemos consciência da responsabilidade da nossa consagração em prol dos irmãos. Aliás, naquelas horas difíceis valeu-nos a passagem segundo a qual «Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos». Juntamos as forças, demo-nos as mãos e a dada altura percebemos que Deus estava a conduzir a nossa missão na direcção certa e assim começamos a dar algum sinal concreto de que somos uma Congregação em saída, isto é, missionária. Gostaríamos agradecer as nossas Irmãs pelo ajuda, Espiritual, Humana e material, sobretudo as Nossas Irmãs Sofia,Isabel e a Comunidades de Coimbra. Por tudo seja por Caridade!