Mary Jane Wilson – Uma vida marcada e pautada pela MISSÃO: na missão Ad Gentes

Uma vida marcada pela missão Ad Gentes desde a Infância

A vida de Mary Jane Wilson foi marcada pela missão Ad Gentes desde a sua infância e juventude duma forma embrionária, condicionada pela família, sobretudo pela tia Ellen que a cuidou, que não tendo um lugar fixo onde viver levava-a para onde fosse até à fase da maturidade.

Pelos desígnios divinos Mary Wilson começou a ser treinada para a missão Ad Gentes desde a infância no estilo de vida errante que nos é relatado na sua biografia, condicionada pela sua orfandade desde a tenra idade, e muito mais pela sua dependência da tia Ellen com quem vivia sem residência fixa, desde os seus 6 anos (VTC, 1989, p. 19ss).

Quando já a jovem Mary podia tomar os seus próprios destinos percorreu Países com lugares significativos em busca da sua realização como pessoa humana e sobretudo como cristã. Só para recordar alguns lugares: a Inglaterra percorreu-a com a tia Ellen na infância, a França percorreu-a no processo da sua conversão ao catolicismo que aconteceu concretamente em Boulogne Sur Mer e durante a sua formação como enfermeira (cfr. VTC, 1989, p. 36ss), a Terra Santa em peregrinação por ser terra marcada e santificada por Nosso Senhor Jesus Cristo, Lurdes por ser lugar marcado por Nossa Senhora, a Imaculada Conceição e participou da Procissão de Nossa Senhora de Lurdes com uma vela acesa, Roma como Sede do cristianismo onde estão as colunas da Igreja, S. Pedro e S. Paulo, Assis por ser a terra de S. Francisco de quem admirou a espiritualidade e decidiu seguir e propor o seu exemplo de vida para melhor se identificar com Cristo (cfr. VTC, 1989, p. 42); e por fim Portugal, concretamente a Ilha da Madeira aos 41 anos de idade, por ter sido selecionada para acompanhar e cuidar duma doente (cfr. VTC, 1989, p. 45). Foi esta última a terra que depois de tanto peregrinar, o Senhor indicou para que ali passasse os restantes 35 anos da sua vida para que como Abraão que partiu da sua terra para uma terra desconhecida cumprisse a vontade de Deus (Cfr. Gn 12). Alí se consagrou ao Senhor abraçando os Conselhos Evangélicos e deu a sua vida totalmente em favor dos mais carenciados. A Ilha da Madeira foi o ponto de chegada depois de ser preparada pela sua longa itinerância.

 

Mulher consagrada para  bem fazer na Ilha  e no mundo

Nunca foi fácil partir para uma terra desconhecida, mas com Deus nada há a temer. Assim foi a vida de Mary Wilson na Ilha da Madeira onde o seu propósito era somente o Bem Fazer. Onde houvesse qualquer necessidade a acudir a Irmã Wilson lá estava. Mary Wilson fez-se enfermeira não pelo dinheiro, mas para estar livre e poder fazer o bem (VTC, 1989, p.43) e podemos afirmar que fez-se consagrada para seguir de mais perto o Esposo Jesus Cristo e com Ele e em Seu Nome anunciar com a vida e com as obras o Evangelho. Deus a preparou para a missão Ad Gentes com formação espiritual íntegra que lhe permitia enxergar além do presente e do lugar e não se deixava abalar pelos enganos, era mulher de fé e princípios cristãos bem esclarecidos. A sua vida foi marcada e pautada pela missão inspirando-se em Cristo, o consagrado e o enviado do Pai.

Onde passasse a Ir. Wilson encontrava sempre algo por responder lançando as mãos à obra, sem reserva. A consciência da Ir. Wilson criava nela uma inquietação lendo em cada situação um Kairós, ou seja, um “aqui e agora do apelo de Deus para agir”, do convite de Jesus de dar resposta ao seu “Segue-me” (Mt9,9) e do “Ide e anunciai”, (Mt 28, 19-20) sem demora nem duvidar e muito menos discutir.

A Ir. Wilson compreendeu que a sua missão é eclesial e compreendeu que a Igreja é Mater et Magistra, “Mãe e Mestra” e tudo o que ela ensina e manda vem do seu Esposo e Mestre, Jesus Cristo. Qualquer obra eclesial é missão que deve produzir fruto e quem produz fruto só é aquele que permanece unido ao Mestre (cfr. Jo15).

 

A Missão Ad Gentes da Congregação na profecia da Ir. Wilson

A Ir. Wilson, mulher formada, informada e inconformada com a realidade eclesial que não deve confinar-se num determinado contexto, mas deve espalhar-se pelo mundo, exteriorizou o seu sonho: “Talvez quando formos mais numerosas, Nosso Senhor chame as Irmãs às terras de África para ali dilatar o Reino de Deus” (VTC, 1989, p.169-170). Nestas palavras a Ir.Wilson estava a proferir uma profecia e ao mesmo tempo uma oração que foi escutada pelo Senhor e se concretizou 22 anos depois da sua morte em 1938. O sonho da Ir. Wilson continuou com a expansão do Carisma para outras realidades do globo começando por Moçambique com a partida das primeiras 12 Irmãs missionárias da Ilha da Madeira em Maio de 1938, tendo atracado no então Lourenço Marques, actual Maputo a 13 de Junho de 1938.

A Ir. Wilson é uma figura eclesial histórica por ser admirada primeiramente pelas suas filhas  depois por todos os que contactam com a sua história. Na sua maturidade espiritual, a Ir. Wilson percebeu que a sua vida devia ser duma entrega total à missão, por isso se consagrou. A evangelização para a Ir. Wilson não estava desligada da oração. O próprio Jesus Cristo antes de empreender qualquer missão recolhia-se em oração (cfr. Lc 6,12-19). A oração e a evangelização tinham como finalidade a glorificação e adoração a Deus, a promoção humana de todas as idades e estratos sociais, sobretudo os mais necessitados de corpo ou de espírito, preferindo os que necessitassem mais de atenção no campo físico, material, espiritual e cultural. A Ir. Wilson não pensava noutra coisa senão em fazer o bem e espalhar o Reino de Deus em todos os corações.

A Ir. Wilson toda dada a Deus e ao próximo vivia uma abnegação total imitando o “poverello” de Assis, S. Francisco na sua humildade que é uma das virtudes que tornou possível a nossa redenção, porque Jesus humilhou-se até à morte e morte de Cruz para redimir-nos da condenação pelos nossos pecados. Por isso, seguindo os seus passos de S. Francisco é indispensável a humildade. Esta virtude está no elenco das graças que a Ir. Wilson aconselha a pedir a Deus como necessárias que uma religiosa deve pedir a Deus: “devemos aproveitar o tempo em pedir a Deus as graças necessárias a uma religiosa, que são em especial a obediência, a simplicidade e sobretudo a humildade, mãe de todas as virtudes” (VTC, 1989, p. 188).

 

Com a Irmã Wilson as Irmãs vitorianas em missão Ad Gentes

A Irmã Franciscana de Nossa Senhora das Vitórias tem e devia ter entre as suas grandes aspirações a experiência missionária fora do seu contexto de origem, ou seja, noutros Continentes. A Irmã Wilson embora não tenha saído em missão fora da Europa, lançou a semente e os frutos já se percebem claramente em cada Irmã que parte em missão Ad Gentes. Longe da sua terra a nossa querida Fundadora foi apelidada de “Boa Mãe” pelo povo por causa da sua bondade incomparável (VTC, 1989, p. 64). Ninguém chama de mãe a uma estranha e muito menos “Boa Mãe” se não tiver provado de facto a bondade maternal dessa mulher.

Como forma de seguimento de Jesus Cristo que chamou os Apóstolos e muitos deles terminaram a sua peregrinação nesta terra longe das suas terras de origem e martirizados, continua ainda hoje a entrega de almas que se consagram inteiramente pela causa do Seu Reino e pelo serviço do irmão mais carenciado, sobretudo pela partida em missão Ad Gentes. Esta missão é uma aventura que impulsiona o enviado a lançar-se ao desconhecido, a lançar-se lá onde se percebe que há necessidade de evangelizar e servir o irmão. A Ir. Wilson continua viva na memória das suas seguidoras em missão Ad Gentes. A Congregação se expande e cada Irmã Franciscana de Nossa Senhora das Vitórias tem presente que a messe é grande e deve dar-se até à última gota de sangue apontando o seu olhar para o único horizonte: o Reno dos céus. Quem não tem esse horizonte facilmente se cansa e murmura quando tem que partir e o coração fica impedido de derramar o amor de Deus que levaria o povo a olhar esta alma consagrada como a “Boa Mãe”.

A experiência de Mary Wilson desde a infância foi de sofrimento ao viver sem lugar fixo, mas foi um treino divino para o desprendimento como ela mesma afirmou aos 27 anos: “tenho-me apoiado demais nos amigos, buscando felicidade, apoio e companhia; agora Deus retirou-mos para me fazer apoiar inteiramente nele” (VTC, 1989, p. 34). Esta experiência foi uma preparação, libertou a sua mente e o seu coração para que no futuro partisse para aquela terra prometida por Deus renunciando assim não só a sua pátria, a família, mas também a si mesma em favor dos que mais sofrem.

A missão Ad Gentes está presente em cada Irmã vitoriana e Deus prepara o coração segundo os seus desígnios. Cada passo dado, cada experiência comunitária, cada contexto pastoral e cada povo onde somos enviadas são um conjunto de elementos para a concretização da missão preparada por Deus. Um não a um destes elementos pode constituir um obstáculo para o que Deus preparou para o futuro. Com a Irmã Wilson e toda a família vitoriana a obra divina se propaga e o Evangelho vai se espalhando nas diferentes latitudes. Nosso Senhor abençoe a cada alma que se doa. Venerável, Irmã Wilson, rogai por nós!

Ir. Imaculada da conceição Paulo Tembo (PNSF)

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